1. Definir Objetivos Terapêuticos
- Identifique quais aspectos cognitivos, emocionais ou comportamentais o jogo precisa estimular. Por exemplo, pode-se focar em habilidades sociais, controle emocional, resolução de problemas ou memória. Use uma base sólida como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ou a Terapia do Esquema. Se o objetivo é melhorar a comunicação em pacientes com autismo, jogos colaborativos podem ser mais adequados.
2. Pesquisar Evidências Científicas
- Utilize revisões sistemáticas, artigos científicos e meta-análises que investiguem a eficácia de jogos digitais em psicoterapia. Baseie-se em estudos que avaliam jogos como ferramentas para tratar condições específicas (por exemplo, TDAH ou Transtorno do Espectro Autista – TEA). Bases de dados como PubMed, Google Scholar, e Scielo são excelentes fontes. Procure por termos como “jogos digitais em psicoterapia” e “games para estimulação cognitiva”.
3. Avaliar a Usabilidade e Envolvimento
- Segundo teorias como a da usabilidade heurística, o jogo deve ser fácil de usar, intuitivo e proporcionar envolvimento contínuo para que o paciente se sinta motivado. A Teoria do Fluxo, de Mihaly Csikszentmihalyi, pode ser uma base importante aqui, pois descreve a experiência ótima de imersão em uma atividade. Escrevi um pouco sobre Flow aqui
4. Verificar Relevância Terapêutica
- O jogo deve alinhar-se aos princípios da intervenção terapêutica escolhida. Por exemplo, em uma abordagem baseada em TCC, um jogo deve fornecer oportunidades para reestruturação cognitiva, prática de habilidades sociais ou autorregulação emocional.
- Exemplo: Os jogos Celeste, Rainy day e Figment, que lidam com temas como enfrentamento de dificuldades, depressão e ansiedade, pode ser adequado para trabalhar estratégias de enfrentamento.
5. Considerar a População Alvo
- Avalie a adequação do jogo à faixa etária, cultura e contexto do paciente. Segundo Vygotsky, o aprendizado é influenciado pelo contexto social, então jogos que refletem o ambiente do paciente podem ser mais eficazes. Em adultos neurodiversos, considere aspectos de acessibilidade também.
6. Realizar Testes e Avaliações Preliminares
- Antes de utilizar um jogo em sessões de terapia, faça testes com ele para avaliar sua eficácia em promover os resultados esperados. Utilize ferramentas como a análise funcional do comportamento e avaliações de engajamento terapêutico.
- Avalie se o paciente apresenta mudanças comportamentais ou emocionais após utilizar o jogo, como aumento na capacidade de resolução de problemas ou maior controle emocional.
7. Adaptar o Jogo ao Contexto Clínico
- Personalize a aplicação do jogo dentro do contexto terapêutico. Isso pode envolver modificar o uso do jogo para focar em habilidades específicas. Utilize a gamificação, que envolve usar elementos de jogos (como feedback, recompensas) para motivar o paciente a se engajar na terapia.
- Exemplo: Para um paciente com dificuldades de empatia, você pode utilizar jogos cooperativos como “Among Us”, adaptando o foco para a comunicação e a compreensão das intenções dos outros jogadores.
8. Coletar Feedback e Avaliar Resultados
- Ao utilizar os jogos, colete feedback contínuo do paciente para ajustar a intervenção. Utilize escalas de avaliação, como o Inventário Beck de Ansiedade ou o Questionário de Habilidades Sociais, para medir os resultados. Verifique a lista de testes aqui. Se o jogo está promovendo as mudanças esperadas, como maior regulação emocional ou melhoria nas habilidades sociais, isso será indicado nas pontuações desses questionários.
9. Atualizar e Reavaliar o Jogo Periodicamente
- A eficácia de jogos digitais pode variar ao longo do tempo conforme as necessidades do paciente mudam. Baseie-se no modelo da Neuroplasticidade, que aponta a capacidade do cérebro de mudar com o tempo, e ajuste o uso de jogos de acordo com a evolução do tratamento. Se o paciente demonstra progresso em uma área, pode ser necessário mudar o tipo de jogo ou aumentar a complexidade dos desafios oferecidos, garantindo que continue promovendo novas habilidades cognitivas ou emocionais.
10. Documentar e Compartilhar Experiências
- Para contribuir com a comunidade científica e clínica, documente os resultados e compartilhe suas experiências em artigos, blogs ou conferências. Segundo o princípio da Prática Baseada em Evidências, compartilhar estudos de caso e protocolos bem-sucedidos ajuda a avançar o campo da psicoterapia digital.
Parte do texto retirado da minha dissertação para obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde: ”O uso de jogos digitais como ferramenta em psicoterapia online para adultos neurodiversos” (2025). Debora Cristini Lopes Machado dos Santos.