Se você é neurodiverso, já deve ter vivido momentos em que sons, luzes, cheiros ou até mesmo o toque pareciam insuportáveis. Essa experiência é conhecida como sobrecarga sensorial e ocorre quando o cérebro recebe mais estímulos do que consegue processar de maneira eficiente. Para muitas pessoas neurodiversas, como aquelas no espectro autista ou com TDAH, a sobrecarga sensorial não é apenas um incômodo, mas um desafio real que impacta o bem-estar e o funcionamento diário.
O que acontece no cérebro durante a sobrecarga sensorial?
A neurociência explica que a sobrecarga sensorial envolve um descompasso no processamento de informações pelo sistema nervoso. Em pessoas neurodiversas, pode haver uma hiper ou hipossensibilidade sensorial devido a diferenças na regulação dos circuitos neurais, especialmente nas áreas do córtex sensorial, amígdala e tálamo.
- Córtex sensorial: responsável por interpretar estímulos como som, luz e toque. Quando hiperativo, pode amplificar sensações, tornando-as avassaladoras.
- Amígdala: a estrutura ligada ao processamento emocional e ao medo pode reagir exageradamente a estímulos sensoriais intensos, desencadeando respostas de luta, fuga ou congelamento.
- Tálamo: atua como um “filtro” sensorial, selecionando quais informações chegam ao córtex. Quando há dificuldades nesse filtro, a pessoa pode perceber muitos estímulos simultaneamente, levando à sobrecarga.
- Sistema Nervoso Autonômico: composto pelo sistema simpático (resposta de luta ou fuga) e o parassimpático (resposta de relaxamento), ele pode ser hiperativado durante a sobrecarga sensorial, resultando em sintomas físicos como taquicardia, sudorese e tensão muscular.
Como a TCC pode ajudar?
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) oferece estratégias para gerenciar a sobrecarga sensorial, ajudando a reconhecer padrões de reação e desenvolver habilidades para minimizar o impacto desses estímulos.
- Identificação de Gatilhos
- Mapear quais situações ou ambientes costumam gerar sobrecarga sensorial pode ajudar na prevenção.
- Manter um diário sensorial pode ser útil para reconhecer padrões e prever momentos de maior vulnerabilidade.
- Regulação Emocional e Reestruturação Cognitiva
- Técnicas de mindfulness e respiração profunda ajudam a modular a resposta da amígdala e reduzir o impacto emocional da sobrecarga.
- Questionar pensamentos automáticos negativos sobre a experiência sensorial pode diminuir a ansiedade associada a esses episódios.
- Exposição Gradual
- A dessensibilização progressiva pode ajudar na adaptação a estímulos intensos, permitindo maior tolerância ao longo do tempo.
- Criar ambientes controlados e previsíveis pode reduzir o estresse associado a exposições inesperadas.
- Técnicas de Grounding e Estimulação Sensorial Contrabalanceada
- Estratégias como segurar um objeto de textura confortável, mascar chiclete ou ouvir sons suaves podem ajudar a redirecionar a atenção e aliviar a sobrecarga.
- Ambientes de baixa estimulação (como quartos escuros ou com isolamento acústico) podem servir como refúgio para recuperação.
- Exercícios de propriocepção, como apertar uma bola antiestresse ou cobrir-se com um cobertor pesado, podem ajudar a reduzir a sensação de sobrecarga.
Exemplos práticos para aliviar a sobrecarga sensorial
- Em locais barulhentos: usar fones de ouvido com cancelamento de ruído ou protetores auriculares pode reduzir a intensidade do som.
- Em ambientes muito iluminados: óculos com lentes escuras ou filtros de luz azul podem suavizar a percepção de brilho intenso.
- No contato físico indesejado: roupas com tecidos confortáveis e evitar lugares lotados podem ajudar a minimizar o desconforto.
- No excesso de estímulos visuais: manter um espaço organizado e com cores neutras pode reduzir a sobrecarga visual.
- No excesso de cheiros fortes: carregar um lenço com um aroma suave pode ajudar a neutralizar odores desagradáveis.
- Em situações sociais desgastantes: estabelecer pausas entre interações e ter um local seguro para se retirar pode ajudar a evitar sobrecarga.
Validando suas experiências
A sobrecarga sensorial não é frescura, exagero ou falta de controle. Seu cérebro está processando o mundo de uma maneira única, e reconhecer seus limites é um passo essencial para o autocuidado. Se você se identifica com essas experiências, saiba que há estratégias que podem tornar seu dia a dia mais leve. Compreender o funcionamento do seu cérebro e buscar ferramentas que respeitem sua neurodiversidade é um ato de autocompaixão e empoderamento.
Lembre-se: você não precisa se adaptar a um mundo que não foi projetado para sua forma de processamento. Em vez disso, pode construir estratégias que tornem esse mundo mais acessível para você. Precisando de ajuda, estou por aqui!
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