O termo “neurodivergente” refere-se a pessoas cujo funcionamento cerebral difere do padrão neurotípico, ou seja, aquelas cujas características neurológicas não se alinham às expectativas convencionais da sociedade. Essa perspectiva não busca patologizar essas diferenças, mas reconhecê-las como variações naturais e intrínsecas à diversidade humana. Neurodivergências incluem condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Dislexia, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Tourette, Discalculia e Disgrafia, entre outras.
O conceito de neurodivergência foi introduzido pela socióloga australiana Judy Singer na década de 1990. Singer, em conjunto com outros ativistas, buscava transformar a maneira como condições neurológicas eram percebidas. Em vez de serem vistas como “deficiências” ou “disfunções”, as neurodivergências passaram a ser compreendidas como parte de um espectro de diversidade humana. Essa abordagem desafia o modelo biomédico tradicional, que frequentemente classifica essas condições como transtornos que precisam ser corrigidos, promovendo em seu lugar uma compreensão inclusiva e afirmativa das diferenças neurológicas.
De acordo com Chapman e Botha (2023), é essencial que as intervenções terapêuticas sejam informadas por uma abordagem baseada na neurodiversidade. Isso significa que os profissionais de saúde mental devem se afastar de metas que buscam conformidade com padrões neurotípicos e, em vez disso, focar em apoiar o bem-estar e a autoaceitação de indivíduos neurodivergentes. Essa abordagem também enfatiza a importância de adaptar os contextos sociais para serem mais acessíveis e inclusivos, em vez de esperar que indivíduos neurodivergentes mudem para se encaixar em normas estabelecidas.
A inclusão de pessoas neurodivergentes nos diversos contextos sociais e profissionais é um passo crucial para combater o capacitismo e promover uma sociedade mais equitativa. Conforme discutido pelo National Cancer Institute (2022), a neurodiversidade reconhece que as diferenças neurológicas contribuem para a criatividade, inovação e resiliência. Essa inclusão requer a implementação de políticas que não só acolham a diversidade, mas também promovam a autonomia e o protagonismo das pessoas neurodivergentes em todas as esferas da vida.
O movimento social da neurodiversidade, segundo Bliacheris e Hernandez (2024), é também um movimento de consciência política, especialmente para a comunidade autista. Ele busca desafiar as narrativas dominantes que marginalizam indivíduos neurodivergentes, ao mesmo tempo em que promove uma visão baseada em direitos humanos. Essa perspectiva estimula a valorização da experiência vivida de pessoas neurodivergentes como uma fonte crucial de conhecimento para a elaboração de práticas inclusivas e empáticas.
Como psicóloga e pessoa neurodivergente, diagnosticada com TDAH e Discalculia, trago uma compreensão única e empática das experiências e desafios enfrentados por indivíduos neurodivergentes. Minha prática é fundamentada em abordagens baseadas na neurodiversidade, priorizando a criação de um espaço terapêutico inclusivo e livre de julgamentos. Utilizo recursos como jogos digitais e analógicos para estimular habilidades socioemocionais e cognitivas, respeitando as especificidades de cada paciente. Meu objetivo é empoderar os pacientes, ajudando-os a reconhecer e valorizar suas forças, enquanto trabalham para superar barreiras em um ambiente acolhedor e colaborativo. Acreditando na importância da representatividade e do respeito à diversidade, busco constantemente integrar experiências vividas e conhecimento técnico para oferecer um cuidado personalizado e eficaz.
Referências:
Bliacheris, M. W., & Hernandez, A. R. C. (2024). O movimento social da neurodiversidade e a consciência política autista. Revista Psicologia Política, 24, e24081. https://doi.org/10.5935/2175-1390.v24e24081.
Chapman, R., & Botha, M. (2023). Neurodivergence-informed therapy. Developmental medicine and child neurology, 65(3), 310–317. https://doi.org/10.1111/dmcn.15384
https://dceg.cancer.gov/about/diversity-inclusion/inclusivity-minute/2022/neurodiversity